Quais são os riscos de usar aplicativos de edição nas redes sociais?

Quais são os riscos de usar aplicativos de edição nas redes sociais?

Nilton Kleina 27 jun 2020

Serviços que mudam o seu rosto e imaginam você como outra pessoa ou mais velho são divertidos, mas podem esconder riscos à privacidade

Nas últimas semanas, um velho fenômeno voltou a viralizar nas redes sociais: um aplicativo bastante simples de edição automática de fotos que "transforma" homens em mulheres e vice-versa, para que o usuário compartilhe o resultado.

Esse tipo de ferramenta não é novidade: brincadeiras que mostram a sua versão mais jovem ou idosa já circularam pelo Facebook, Twitter e outras plataformas, assim como testes que descobrem com qual celebridade você se parece.

Ao mesmo tempo, surgem preocupações a respeito da segurança digital. Afinal, esses arquivos podem cair nas mãos erradas? Autorizar a utilização dessas ferramentas resulta em violações de privacidade? As respostas não são tão simples e, se mal interpretadas, podem levar a acusações graves sem a devida comprovação. Por isso, é importante entender como esses aplicativos funcionam e que tipo de risco eles podem gerar.

O que esses aplicativos fazem

As edições de foto que entregam o resultado em segundos e parecem surpreendentemente precisas funcionam de forma automática. Essas ferramentas trabalham a partir de redes neurais, que operam por meio de uma Inteligência Artificial que fica mais "esperta" com o tempo, ao ser alimentada cada vez com mais arquivos.

O serviço faz uma leitura completa do seu rosto, identificando partes essenciais que serão alteradas, como o cabelo, além de manter traços importantes para que você ainda se identifique no resultado, incluindo olhos e nariz.

Em 2019, quando aconteceu a primeira onda de popularidade do FaceApp, a Avast abordou o caso aqui no blog e explicou algumas das ameaças dessas ferramentas. Por causa das polêmicas ao redor do mundo, a empresa atualizou os termos de uso no fim do ano passado, deixando claras as autorizações concedidas pelo usuário e o que a companhia pode fazer com as fotos que você envia para o servidor.

Para onde vai a sua foto?

É nesse ponto que a questão de proteção é colocada em jogo. Afinal, fotos pessoais são enviadas em lotes a empresas de origem desconhecida, que podem armazenar e utilizar esses arquivos como bem entenderem.

26.2Fonte: Shutterstock

Primeiro, é preciso deixar claro que aplicativos como o FaceApp não são maliciosos na origem: eles não carregam malwares ou abrem caminho para crimes cibernéticos no sistema. Isso significa que um antivírus não o vai sinalizar como uma ameaça. Entretanto, assim como outros serviços do tipo, ele gera preocupações reais — principalmente no uso comercial desses arquivos.

"O que serão feitas com essas imagens? É preciso ler as entrelinhas, os termos e as condições, além de ficar atento às requisições de sistema ao instalar", explica o jornalista especializado em segurança Felipe Payão.

De acordo com os termos de privacidade do FaceApp, as fotos são apagadas em no máximo 48 horas, ficam em servidores terceirizados do Google e da Amazon para a edição, além de permanecer anonimizadas e protegidas por criptografia. Além disso, nos termos não há autorização para uso comercial das fotos pela empresa ou por terceiros.

Porém, a utilização pela própria empresa responsável e até um eventual roubo desses dados por criminosos pode acontecer. Já imaginou imagens suas sendo usadas para burlar reconhecimento facial ou criar deepfakes, por exemplo?

Permissão para espiar

O segundo risco é o das permissões. Cada vez que um aplicativo pede para ser conectado ao seu perfil ou sistema operacional, o usuário deve autorizar uma série de acessos por parte da desenvolvedora — normalmente listados em textos que muita gente pula antes de aceitar.

Normalmente, o serviço apenas pede autorização para publicar no seu perfil o resultado da edição, mas alguns exageram nas solicitações: há ferramentas que conseguem acesso a lista de contatos, detalhes do aparelho utilizado e até histórico de navegação.

A promessa é de que tudo isso seja anonimizado e criptografado, mas todo cuidado é pouco com os seus dados.

Como se proteger?

Para começar, adote o hábito de conferir as permissões de tudo o que você usa ou instala, seja no computador ou no celular. Um alto número de autorizações para recursos que nada têm a ver com o funcionamento da ferramenta pode indicar atividades suspeitas e que um software tenha vulnerabilidades ou más intenções.

Por outro lado, cuidado para não vilanizar esses serviços: o simples uso dessas ferramentas não significa que você será afetado de alguma forma, e o FaceApp não é o único serviço que coleta dados de suas redes sociais — o próprio Facebook armazena dados sobre os seus hábitos online.

"Sempre há algum risco, não existe um sistema completamente invulnerável. Mas, partindo desse pensamento, você praticamente não usaria a internet", ressalta Payão, que ainda afirma que qualquer cadastro em rede social já significa algum nível de exposição de privacidade.