Há 20 anos, um cientista da computação em Londres precisava de um título para uma apresentação de slides e criou um nome que veio para ficar.
Há 20 anos, Kevin Ashton se sentou em sua baia nos escritórios de pesquisa e desenvolvimento da Procter & Gamble em Egham, Surrey, a apenas 17 milhas do Museu de Ciências de Londres que está agora com uma exibição chamada Top Secret*, sobre a história da segurança cibernética e tecnologia. Na tela do seu laptop IBM ThinkPad, estava uma apresentação em PowerPoint. Ele precisava de um nome.
Por 6 meses, o cientista da computação de 30 anos tentou convencer a P&G a colocar tags de identificação de radiofrequência e outros sensores nos produtos da cadeia de fornecimento. Os tags e sensores gerariam dados sobre a localização dos produtos se fossem escaneados em um armazém, colocados em uma prateleira ou vendidos.
O nome da apresentação poderia influenciar o avanço do projeto. Ele precisava se destacar.
“Eu queria usar a palavra ‘internet’, pois isso poderia ajudar a obter alguma adesão”, diz Ashton (foto recente acima). “Todos esses CEOs de cabelos brancos e idosos estavam muito animados com a internet, mas, naquele momento, havia apenas a revolução ‘.com’. Só os sites importavam. Para a maioria das pessoas, a internet ainda era discada. A internet era algo que você recebia por meio de CDs da AOL”. (A comunidade online da America Online distribuía CDs que os usuários inseriam nos computadores para carregar o software e usar a rede).
“Ninguém falava sobre a Internet de coisa nenhuma”.
“As pessoas usavam a frase ‘embalagem inteligente’, mas eu estava entediado com isso”, diz Ashton, cofundador do Auto-ID Center no Massachusetts Institute of Technology, e autor do livro “How To Fly A Horse”* (Como Pilotar um Cavalo, em tradução livre).
“Eu estava falando sobre a cadeia de suprimentos ser uma ‘rede das coisas’ e a internet ser uma ‘rede de bits’ e como a tecnologia de sensores poderia combinar as duas. Depois, eu pensei em uma ‘Internet das Coisas’ e disse: ‘É isso aí’. Era chamativo. E se tornou o título da apresentação.
“Depois, eu pensei em uma ‘Internet das Coisas’ e disse: ‘É isso aí’. Era chamativo. E se tornou o título da apresentação. – Kevin Ashton, falando sobre como batizou a Internet das Coisas
Ele entrou em uma reunião com uma dezena de executivos da empresa de barbeadores Gillette, que tinha interesse em uma parceria com a P&G no projeto de sensores. (A P&G comprou depois a Gillette, mas nos anos 1990, elas eram empresas separadas). Ele convocou a apresentação e o título que se tornaria famoso recepcionou seu público:
A Internet das Coisas
E ele foi recebido com... Silêncio.
“Eles adoraram. Tudo correu bem. Mas não houve fogos de artificio iluminando o céu. O tempo não parou. Terminamos a reunião e fomos jantar no King’s Road em Chelsea. A vida continuou”.
Mas a apresentação de slides funcionou. “Essa reunião me levou a outra com um executivo sênior da Gillette em Boston, e eles concordaram em financiar minha pesquisa no MIT”. Então, o título sobreviveu e Ashton se transferiu para o Massachusetts Institute of Technology, onde foi um dos cofundadores e diretores do Auto-ID Center, o laboratório de pesquisa que ajudou a criar a base da Internet das Coisas.
“Continuei usando a apresentação”.
A frase não se tornou imediatamente conhecida. “Por 5 anos, mais ou menos, ninguém usava o termo. De 1999 a 2005, ele mal aparecia. A ideia de ter dados no que hoje chamamos de nuvem era uma grande novidade”.
Então, em 2008 e 2009, a frase ganhou vida própria. Parcialmente, porque a Internet das Coisas estava se desenvolvendo e crescendo além da pequena comunidade de especialistas em ciência da computação, mas também por um motivo diferente. Em seu livro, Ashton escreve sobre os acidentes que frequentemente contribuem à inovação. A Internet das Coisas se tornou uma frase popular, ele acredita, parcialmente devido a um acidente estranho e quase esquecido.
O Twitter explodiu, crescendo mais de 750% em 2008* e atingiu 5 milhões de visitantes mensais. O acrônimo óbvio para a Internet das Coisas, “IoT", continha apenas 3 letras que as pessoas estavam usando para tudo. Os usuários do Twitter precisavam de uma maneira curta de falar sobre a Internet das Coisas, então muitos começaram a usar a hashtag #IoT. “Não chamávamos de IoT no início”, diz Ashton. “Mas, recordando, um dos acidentes que tornou ‘Internet das Coisas’ uma frase de sucesso foi o acrônimo IoT, que era incomum e começou a aparecer como uma hashtag do Twitter”. De um início devagar em 2008, uso frequente em 2009 e utilização publicitária em 2010, #IoT cresceu para se tornar um tópico comum no Twitter.
Hoje, a Internet das Coisas se tornou parte da linguagem que outras pessoas tentam ocasionalmente explicar a Ashton. Uma certa vez, um executivo de Los Angeles tentou explicá-lo, e a um grupo de pessoas que sabia que ele cunhou a frase Internet das Coisas, o que é IoT. “E percebi que ele entendeu tudo errado. Tentei corrigi-lo gentilmente, mas ele ficou explicando para mim”.
Ashton é conhecido como o “pai da Internet das Coisas”, o londrino que deu nome a uma revolução na sua baia, mas continua humilde com seu lugar na história. “Você sabe”, ele confidencia. “Teria mais sentido gramaticalmente se fosse ‘a Internet para as Coisas”.
Tarde demais. Está bom o suficiente, talvez até melhor.
Top Secret é uma exposição no Museu de Ciências*, em Londres, que vai de 10/07/2019 a 23/02/2020. A entrada é gratuita, mas é necessário fazer reservas. Mais detalhes e informações podem ser encontrados aqui*.
* Original em inglês.