É fácil encontrar qualquer opinião na internet. O problema é que com frequência não sabemos quem gera a informação e quais as intenções que estão por trás dela.
As pessoas, com frequência, acreditam mais nos seus contatos das redes sociais do que nas propagandas tradicionais, e acreditam com mais facilidade em tudo, de uma opinião sobre um restaurante até opiniões políticas quando vem das redes sociais. Uma história divertida ou trágica que pode não representar nenhuma tendência tem mais chances de se tornar viral do que uma reportagem bem fundamentada com muita análise e fatos. Como sempre, há marqueteiros, aproveitadores, ideólogos e criminosos que rapidamente abusam desses preconceitos psicológicos. A pessoa que ataca você com um tweet político pode ser um troll que está sendo pago ou um robo. O spam que você ignorou em sua caixa de entrada está agora circulando em um feed de mídia social que você confia. Os ataques phishing e os links maliciosos que você nunca clicou em um e-mail anônimo podem aparecer agora como uma recomendação de um amigo ou de uma celebridade que você admira. Esses ataques podem até ser personalizados para atingir você diretamente quando estiver a caminho das suas compras ou do cinema.
Como um comentarista político e dos eventos internacionais do mundo digital, eu frequentemente me encontro como objeto de ataques pelos que comentam minhas postagens. Frequentemente, está claro que esses comentários não estão na mesma linha das ideias que eu estou apresentando. Eu amo o debate, e até as discussões apaixonadas, e o valor da internet como um fórum no qual ambos os lados podem apresentar suas crenças e trabalhar para encontrar um espaço comum. Infelizmente, a trollagem que frequentemente domina as sessões dos comentários online não ajuda a avançar neste tipo de discussão. O grau de emoção (e ódio) que se vê leva muitas pessoas a se afastar completamente das discussões, e pode estar sendo prejudicial especialmente para os jovens. Se os trolls estão ganhando, isso mostra um aspecto mais problemático e profundo do nosso novo panorama digital.
É cada vez mais fácil encontrar uma visão, em algum lugar da internet, para sustentar quase qualquer tipo de opinião, independentemente de ser insubstancial e de estar longe dos fatos. O problema é que com muita frequência nós não temos nem ideia de quem gerou essa informação e, por isso, quais são as motivações por trás dos que a promovem. Nós alardeamos as vantagens de ter tanta informação ao alcance da mão. O mundo parece ser mais transparente do que nunca, nenhum tópico de interesse sai do nosso alcance. E mesmo assim, é chocante que saibamos tão pouco sobre quem está disponibilizando todas essas informações, e por que. Por isso, cada vez mais os fatos estão misturados com os chamados “fatos alternativos”, o que nos deixa melhor informados, ou somente mais confusos?
É fácil de esquecer, mas vale a pena lembrar, que quando nós navegamos por todos esses dados, há somente uma forma de dizer a verdade, mas há infinitas formas de mentir. Nas conversas face a face, a chance de ser enganado é menor. Você tem de olhar ao seu interlocutor nos olhos enquanto tenta enganá-lo, algo difícil de fazer para muitas pessoas. A mídia mais tradicional também tem mecanismos de proteção contra espalhar mentiras, por sua responsabilidade perante a sociedade. Se um jornal publica duas histórias contraditórias sobre um fato, seus leitores irão sem dúvida levantar objeções sobre a qualidade da reportagem. E todo jornal sério tem uma seção de “Erratas” para manter a confiança dos leitores e corrigir suas publicações. Nem há nenhuma dúvida sobre a fonte das reportagens, tornando relativamente fácil manter a isenção das empresas de mídia. As novas mídias, no entanto, não têm a segurança imposta por limites tão claros. Não há como verificar 6.000 tweets postados a cada segundo e tentar corroborar ou desaprovar a versão que cada usuário tem da realidade. Vivemos em um mundo virtual onde infinitas versões absurdas dos eventos podem coexistir, sem que nenhuma delas se cruze ou chame para o debate as outras partes envolvidas. Nós escolhemos os nossos próprios canais de realidade ao seguir certas pessoas, simplesmente por ler ou assistir a certos comerciais. Vivemos em um mundo em que podemos criar um casulo no qual as nossas interpretações preferidas dos eventos nunca são desafiadas.
O estado atual das coisas é o resultado da mudança de muitas discussões da sociedade a esse novo mundo ainda não mapeado – a internet – sem aplicar as normas que governam a vida pública. Simplesmente porque uma pessoa pode estar privadamente em sua casa enquanto digita uma postagem para um blog não diminui a profunda natureza social de clicar no botão “publicar”. Se não trabalharmos para criar um espaço no qual as opiniões são manifestadas com respeito e racionalidade, estaremos permitindo que o potencial da internet seja usurpado por aqueles que abusam do seu poder para os seus objetivos pessoais. Agora mesmo, enquanto a maioria se atêm aos padrões da decência, os falsos ditadores patrocinam operações de trollagem ideológica e regimes repressivos censuram toda a livre expressão que ameace o seu controle absoluto. Uns poucos abusam da abertura que faz da internet uma potente força de transformação.
Essa situação desigual entre a maioria dos usuários versus um pequeno grupo de pessoas que abusam está refletido em assuntos de segurança mais específicos. Um malware pode se alastrar e complicar a vida de milhões de pessoas e empresas, custando muito pouco para quem o cria. As redes sociais estão sendo um campo fértil para malwares, que usam engenharia social para abusar da confiança que as pessoas têm nos seus amigos. No Twitter, os ataques phishing são muito mais efetivos do que aqueles enviados por email. No Facebook, clicando naquilo que você pensava ser uma postagem de um amigo se torna rapidamente em outro vetor do mesmo vírus que infectou a conta do seu amigo. Postagens falsas, tweets falsos, notícias falsas, contas falsas, dano real. É uma crise global de segurança, transparência e confiança.
A solução não é um regime regulatório rígido, mas uma mudança para se aceitar certas formas de conduta e rejeitar outras. Os guardiões do Vale do Silício e de outras partes do mundo podem ajudar na criação de sistemas que premiem as boas condutas. Ferramentas mais inteligentes deveriam proteger-nos das falhas na divulgação da verdade e na quebra de confiança. No fim das contas, os problemas das redes sociais são problemas sociais, e desenvolver boas práticas sociais leva tempo. Podemos começar por recusar a tolerar aqueles que andem fora das linhas de um comportamento aceitável. Quando temos certeza de estarmos lendo mentiras deslavadas, devemos, como consumidores conscientes de informação, recusar pagar-lhes com a nossa atenção. Temos de manter um ambiente respeitável na mídia, como juízes da verdade, com os mais altos padrões. O primeiro passo para retomar o controle sobre o nosso espaço digital é encarar a mentira de frente: a meta é muito alta para permitir que as mentiras definam o futuro do diálogo global.
Imagem: GoDaddy