Defendendo a liberdade digital em tempos de ciberguerra

Garry Kasparov 7 out 2022

Estamos testemunhando uma guerra cibernética em grande escala, em tempo real, ocorrendo diante de nossos olhos. A cibersegurança e a liberdade digital são agora, literalmente, questões de vida ou morte na Europa.

De Austin a Paris, e depois de Paris a Toronto, juntei-me a Ondrej Vlcek*, então CEO da Avast e hoje Presidente da NortonLifeLock, na minha terceira conferência (e diferente país) em três semanas. Falar com Ondrej na Collision* se tornou uma tradição anual bem-vinda para mim. Todos os anos, espero ansiosamente por este ponto no calendário em que posso falar com líderes do setor sobre o excelente trabalho que o Laboratório de Ameaças da Avast* faz para promover os direitos de privacidade e proteger os seus usuários de ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas.

Este ano foi uma conversa especialmente comovente no contexto da invasão da Ucrânia pela Rússia. Estamos testemunhando uma guerra cibernética em grande escala, em tempo real, ocorrendo diante de nossos olhos. A cibersegurança e a liberdade digital são agora, literalmente, questões de vida ou morte na Europa.

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Ouça o seu inimigo

Desde a última invasão de Putin à Ucrânia, muitas vezes me perguntam como eu sabia que Putin lançaria essa nova guerra. A resposta é bem simples. Não sou clarividente. Não leio cartas de tarô nem interpreto as estrelas. Escuto o que Putin diz. Como eu disse a Gillian Tett, nossa moderadora e editora do Financial Times, e Ondrej durante a nossa conversa no palco principal do Collision, os ditadores podem mentir sobre o passado, mas são bastante honestos sobre os seus planos para o futuro. Tett era a anfitriã ideal, pois ela havia acabado de escrever um artigo para o Financial Times* intitulado “Por que eu deveria ter ouvido Garry Kasparov sobre Putin” relatando um jantar em sua casa em Nova York alguns anos atrás, onde eu havia argumentado que Putin não iria parar na Ucrânia até que ele fosse impedido.

Quando no ano passado Putin escreveu a sua falsa história* negando a existência da Ucrânia como um país real, eu avisei em meu 13º boletim que isso era um chamado à guerra. Quando Putin disse que o império da Rússia não conhece fronteiras*, levei-o a sério. Há 21 anos, quando avisei pela primeira vez sobre Putin em 2001, eu não era nenhum sábio: apenas li e ouvi o que ele disse, vi o que ele fez com Grozny e temi pelo que ele faria com a democracia na Rússia.

Why is Russia failing in cyberwar?

No entanto, apesar de todo o planejamento e trama de Putin, por que a guerra cibernética russa na Ucrânia falhou? Essa é a pergunta que Gillian, Ondrej e eu exploramos. Certamente não é por falta de tentativa. A Avast e suas equipes parceiras detectaram e se defenderam contra ameaças russas na internet. Sabemos com certeza que o Kremlin lançou dezenas de ataques cibernéticos* contra alvos ucranianos desde a nova invasão em 24 de fevereiro.

Uma resposta é a força do povo ucraniano: assim como o exército ucraniano venceu a Batalha de Kyiv e ainda está igualando o exército de conscritos de Putin golpe por golpe, os ciberoperadores ucranianos estão defendendo o país dos ataques do Kremlin. Outra é que os sistemas russo e ucraniano estavam tão interligados que qualquer ataque contra a Ucrânia pode sair pela culatra. E, por último, esta guerra expôs quão vulneráveis são os sistemas da Rússia. Indivíduos e grupos como o Anonymous não tiveram problemas em invadir sites* e alvos do governo russo. A lição crucial aqui é esta: a guerra na Ucrânia nos mostrou que as forças da democracia são mais fortes, mais sofisticadas e mais avançadas do que as forças do autoritarismo. Devemos estar corretamente preocupados com o mal, mas não com medo. O trabalho da Avast é a prova viva de que a tecnologia está do nosso lado.

Mas se a guerra e a guerra cibernética parecem muito abstratas, é bom lembrar que todos experimentamos em primeira mão a importância do trabalho de segurança cibernética em nosso dia a dia. Se você já recebeu um e-mail de spam, assistiu a uma fábrica de robôs russos produzir informações erradas em resposta a um tópico no Facebook ou no Twitter, ou ajudou um ente querido idoso sobre como se livrar de um golpe de phishing, você sabe que o cibercrime está em ascensão. À medida que nossas vidas avançam online, o trabalho da Avast está se tornando cada vez mais importante. Como as ferramentas do autoritarismo e da invasão estão se tornando mais sofisticadas, precisamos da tecnologia da democracia e da privacidade digital para acompanhar o ritmo. A melhor defesa contra os ataques cibernéticos é um forte bloqueio.

A liberdade digital difere entre estados e nações

A essa altura, todos vivemos uma aceleração sem precedentes na revolução digital. A pandemia forçou governos, países e todos nós a nos adaptarmos a vidas virtuais e híbridas. Na maioria do mundo democrático, o salto online expôs os usuários a mais golpes online e potenciais invasões. Mas por trás da nova Cortina de Ferro do autoritarismo, em lugares como a Rússia de Putin ou Mianmar da junta Tatmadaw, a pandemia ofereceu aos governos totalitários as oportunidades para reprimir ainda mais os seus cidadãos e reprimir a liberdade digital. Como discuti com Ondrej ao longo do fim de semana, em entrevistas e no palco principal, o Relatório de Bem-Estar Digital* da Avast mostra que existe uma correlação direta entre a repressão na internet de um país e o probabilidade de cidadãos comuns serem expostos a perigosos golpes e invasões.

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Como Ondrej e eu compartilhamos com Gillian, esses resultados são bastante intuitivos. Essas pessoas ao redor do mundo têm o seu acesso à internet aberta bloqueado e precisam buscar soluções alternativas criativas, não confiáveis e arriscadas para os firewalls e a censura do governo. O que estamos vendo agora na Rússia, no entanto, é sem precedentes. O desligamento da internet russa por Putin é o maior exemplo de uma nação inteira desaparecendo da internet mundial. Os usuários na Rússia estarão mais vulneráveis a malwares do que nunca, mas ainda precisamos ver todas as consequências que essa mudança sísmica terá para o futuro da internet.

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E, claro, depois do palco principal e entre minhas entrevistas, fiquei feliz que a equipe da Avast montou outra simulação para mim: desta vez, 11 contra 1*. Para citar uma música de uma das minhas séries de livros favoritas (que me deu o título de Winter is Coming*), foi uma chance divertida de mostrar à torcida e aos meus adversários que, aposentado ou não, esse velho leão ainda tem suas garras!

* Original em inglês.

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