Manter a tecnologia atualizada contribuirá para a sua segurança e privacidade online.
Queria incentivar que você estivesse bem informado sobre a tecnologia que utiliza e evitar ser levado por mitos e afirmações exageradas sobre seus perigos. Deixe-me esclarecer: existem ameaças genuínas, mas elas não vêm da tecnologia em si. Como sempre digo, a tecnologia é agnóstica. Os perigos vêm das mentes malignas que querem usar qualquer ferramenta à sua disposição, incluindo aquelas no espaço cibernético, para causar danos aos demais. Nosso verdadeiro alvo deveria ser combater essas forças, não demonizar esse ou aquele desenvolvimento tecnológico. Conhecer as realidades do nosso mundo digital é o melhor antídoto contra os medos da tecnologia. Também é a melhor maneira de se vacinar contra os problemas de segurança que a tecnologia de fato nos traz.
Em nossos dispositivos e aplicativos favoritos há sempre vulnerabilidades de segurança escondidas, esperando para serem exploradas. Quando elas inevitavelmente vêm à tona, ficamos muito focados nelas por alguns dias, no máximo semanas, e depois voltamos às nossas práticas comuns. Mesmo assim, com tantas invasões bem conhecidas, quantos de vocês trocam suas senhas regularmente, ativam a autenticação de dois fatores e seguem outras práticas recomendadas de segurança cibernética.
Em vez de ser surpreendido repetidamente por violações de segurança, nós devemos prevê-las. Esses exploits são um fato em nosso panorama tecnológico. Falhas são inevitáveis em um ambiente de ritmo acelerado e competitivo, e as enormes falhas nos chips, chamadas de Meltdown e Spectre, são apenas os exemplos mais recentes. Toda empresa se esforça para ser mais rápida e econômica, o que torna erros e lapsos de segurança quase inevitáveis. O mercado rejeitará, os consumidores e as agências reguladoras punirão tais empresas, pelo menos em algum grau, mas a conclusão final é que os exploits são uma realidade permanente. Como notei anteriormente, a maneira mais eficaz de se proteger é inocular-se contra o “vírus”, por assim dizer. Manter boas práticas de segurança pessoal mantêm você mais seguro, mas também trata-se de imunidade de todo o sistema. Quanto mais pessoas estiverem conscientes sobre a ameaça constante e praticarem boa higiene digital, menos provável será o aparecimento de uma “epidemia”. Manter-se informado é a primeira camada de defesa.
Dito isso, uma vez que efetuarmos as etapas para proteger nossa segurança, graves ameaças, nos níveis pessoal, nacional e global, ainda permanecerão. Essas ameaças são sérias e as mais difíceis de abordar. Isso não significa que devemos evitar enfrentá-las ou desviar nossa atenção para problemas menos urgentes. Como eventos recentes demonstram, os perigos de evitar esses desafios estão crescendo. Veja os esforços recentes do grupo de hackers russo Fancy Bear de penetrar no Senado dos EUA e nos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul. Longe de serem dissuadidos depois do ataque de 2016 ao Partido Democrático, o grupo foi encorajado pelos seus sucessos e está assumindo novas campanhas. (Como sempre é o caso, são aqueles que você não conhece que causam os maiores danos). Em seu último esforço, eles criaram um esquema de email de phishing sofisticado para obter acesso aos emails do Senado dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, eles liberaram um lote de emails roubados dos representantes do Comitê Olímpico americano em retaliação por terem exposto o enorme programa de doping patrocinado pelo governo da Rússia.
Embora tudo isso ainda esteja em desdobramento, muita de nossa atenção nacional mudou para exigir transparência e responsabilidade em casa. Na mudança mais recente no debate, os falcões da segurança obtiveram uma vitória com a extensão de longo prazo de partes importantes do Foreign Intelligence Surveillance Act (FISA). Sob a nova legislação, o governo dos Estados Unidos foi liberado por mais seis anos para usar várias técnicas de vigilância online, incluindo navegação de email e pesquisa em históricos, sem exigência de mandatos que o governo considera um incômodo.
Isso pode parecer rotineiro, pois os governantes quase sempre estão a favor da expansão de poderes do próprio governo, não importa quanta retórica de “estado mínimo” eles ostentem. Porém, esse desenvolvimento marca uma mudança na maré da conversa nacional, o que vem favorecendo os que lutam pela privacidade online desde 2013, com a dramática liberação dos documentos da NSA por Edward Snowden. Embora manter a discussão seja absolutamente importante, minha preocupação é que isso tenha se tornado uma distração das ameaças mais graves à segurança. Crackers russos e norte-coreanos, afinal de contas, não estão sujeitos à vigilância de um Congresso.
À medida que pressionamos pela preservação de importantes liberdades em nosso próprio país, precisamos estar vigilantes contra os atores no exterior, que querem minar as bases da democracia ocidental. Frequentemente, isso envolve trocas difíceis. Queremos proteger nossas eleições, mas não queremos que o governo tenha capacidade excessiva de vigilância online. Isso significa um equilíbrio delicado entre a privacidade e segurança que, às vezes, implica em sacrificar parte da liberdade individual para obter uma melhor segurança coletiva.
Na minha última publicação, eu escrevi sobre nossa vontade de trocar um tesouro oculto de dados individuais, com dados biométricos, por serviços e recursos convenientes que as empresas oferecem em troca. Tentar preservar uma privacidade genuína em face de tal coleta disseminada é um exercício de futilidade. Em vez disso, os usuários conscientes tomarão medidas de senso comum para se proteger de um mundo em que Apple, Google e Amazon competem por suas informações.
Você pode encontrar muitos alertas de especialistas sobre como se proteger nesse ou naquele site, desde a otimização da sua estratégia de senha até como contornar conexões de internet desprotegidas com uma VPN. Ao mesmo tempo que você implementa medidas para manter-se seguro(a) online, espero que você se lembre também de que não são apenas grandes corporações públicas que competem por sua atenção e cliques, e não é apenas o governo dos Estados Unidos que acessa suas comunicações. Em alguns círculos, referir-se a essas empresas privadas gigantes e governos democráticos como “o mal” nos distrai das ameaças dos criminosos realmente “maus”. Não se preocupe, não estou inocentando as empresas. Mais do que qualquer pessoa, eu tenho a sensibilidade de ver que a mídia social já foi usada como arma pela Rússia e outros países, enquanto que empresas no Vale do Silício encolheram seus ombros coletivamente e contaram seus lucros. Quero apenas que aqueles que usam as tecnologias como armas sejam responsabilizados tanto quanto aqueles que as criam.
Crackers e malwares são uma parte sempre presente da nossa realidade digital e governos autoritários estão cada vez mais aptos a aproveitar a tecnologia para seus fins. O problema não é uma tecnologia ruim, são as pessoas ruins. Animo você, então, a focar nos principais desafios que o progresso trouxe: repressão, falta de liberdade e corrupção. Continue a explorar as maneiras que a tecnologia pode melhorar a sua vida e não tema a inovação. Novas ferramentas trazem novas oportunidades, para o bem e para o mal. Sabendo como cada um de nós interage com a tecnologia, individualmente e como membros de uma comunidade global, podemos garantir que cada dia seja um passo à frente rumo a uma maior segurança e liberdade para todos.