Crianças e adolescentes formam grupos de hackers

Emma McGowan 12 jul 2022

O mundo digital vem com as suas próprias oportunidades e perigos. Mas você, como pai ou mãe, tem as ferramentas para orientar seus filhos e outros adolescentes na direção certa.

Quando as pessoas ouvem a palavra “hacker”, provavelmente imaginam um homem sentado sozinho em uma sala escura em frente a um computador. Ele tem uma tela preta com código de computador verde em frente. Talvez esteja vestindo um capuz. (Ele definitivamente está vestindo um moletom com o capuz.) O que eles provavelmente não imaginam é que se trata do seu filho adolescente.

Mas talvez devessem, pois a Avast descobriu uma comunidade online criando, trocando e espalhando malware na popular plataforma de comunicação Discord. O grupo anuncia ferramentas de construção de malware fáceis de usar para que os usuários possam criar os seus próprios ransomwares, ladrões* de dodos e mineradores de criptomoedas*. E embora existam muitos fóruns de hackers no Discord, este é composto principalmente por crianças e adolescentes.

O pesquisador de malware da Avast, Jan Holman, diz que crianças e adolescentes são atraídos pelos grupos porque consideram o hacking como algo lícito e divertido. Os criadores de malware fornecem uma entrada fácil: eles não exigem programação, apenas a personalização de funções e da aparência, permitindo que as crianças “zoem” outras pessoas e ganhem dinheiro. E o aspecto comunitário de um servidor Discord também oferece uma sensação de camaradagem e comunidade.

“No entanto, essas atividades, nem de longe são inofensivas, são criminosas”, diz Holman. “Eles podem ter consequências pessoais e legais significativas, especialmente se as crianças expõem suas identidades e as das suas famílias ou se os malwares comprados realmente infectar o computador das famílias, deixando-os vulneráveis. Seus dados, incluindo contas online e dados bancários, podem vazar para os cibercriminosos”.

Então, o que os pais podem fazer sobre isso? Primeiro, vamos dar uma olhada no Discord – o que é, porque as crianças o adoram e o que mais os pais devem saber – e então podemos explorar algumas maneiras alternativas de canalizar toda essa energia.

O que é o Discord?

O Discord é uma plataforma de comunicação para celular ou computador que foi originalmente usada por jogadores que queriam conversar e jogar videogames em diferentes locais físicos. Mas nos últimos anos se expandiu e inclui comunidades que se reúnem em torno de vários tópicos. Os usuários podem se comunicar no Discord por voz, vídeo ou texto e ele também facilita a realização de atividades em grupo, como jogar videogame, assistir a filmes ou... hackear professores.

O Discord é organizado em “servidores”, criados pelos usuários, alguns dos quais exigem um convite para entrar e outros são públicos. Um servidor será dedicado a um tópico principal e, em seguida, terá “canais” abaixo dele para conversas específicas sobre esse tópico. Qualquer um pode configurar um servidor Discord e decidir as regras desse espaço específico.

Para crianças e adolescentes, o Discord oferece um lugar para fazer o que crianças e adolescentes mais gostam de fazer: sair com seus amigos. Como os servidores são criados em torno de interesses, as crianças podem sair enquanto jogam Fortnite ou conversar com outras crianças sobre os seus interesses, sejam eles quais forem. O Discord se tornou especialmente popular no início da pandemia da Covid-19, permitindo que crianças e adolescentes estivessem juntas sem se expor ao vírus. Além disso, não é tão “popular” quanto outras redes sociais e, provavelmente, está fora da visão dos seus pais, que podem os estar acompanhando em outras plataformas.

Como falo com meus filhos sobre segurança online no Discord?

A idade mínima para estar no Discord é 13 anos, mas é definitivamente uma plataforma para todas as idades. Isso significa que alguns servidores são muito adultos e incluem não apenas conversas adultas, mas imagens e vídeos pornográficos e outros conteúdos somente para adultos. Esses servidores são obrigados a ter um rótulo de restrição de idade, mas adolescentes e crianças geralmente são experientes o suficiente para contornar essas restrições, por isso é algo para estar ciente e conversar com seus filhos*.

Mas como pai, a melhor jogada não é dizer ao seu filho adolescente: “Não entre nessas conversas de adultos! Elas não são para você!” A psicoterapeuta e autora Catherine Knibbs* – que trabalha com clientes que sofreram traumas online – sugere fazer perguntas às crianças que as ajudem a promover o pensamento crítico sobre o que está acontecendo nos diferentes espaços online, ajudá-las e orientá-las em sua própria decisão.

“Em vez de dizer 'há pessoas ruins na internet'”, Knibbs disse anteriormente à Avast*, “diga algo como: 'Quem são os seus amigos na internet? Como você sabe que eles são amigos e não apenas alguém com quem você fala? Como você sabe que se trata de uma pessoa verdadeira?'”

Para os pais que cresceram com ferramentas anteriores da internet, as salas de bate-papo da AOL podem ser uma boa comparação. Enquanto a AOL oferecia apenas comunicação por texto (simplesmente ainda não tínhamos outra tecnologia), havia diferentes espaços destinados a grupos para falar sobre interesses específicos. Alguns desses espaços eram totalmente abertos, enquanto outros eram mais adultos. E se você era jovem durante os anos da AOL, você pode se lembrar de participar de salas de bate-papo apropriadas para a sua idade e também explorar outras que definitivamente não eram para você.

O que devo fazer se descobrir que meu filho gosta de hackear?

Apesar do fato de que quase sempre é retratado de forma negativa na linguagem comum e na mídia, hackear por si só não significa infringir a lei. Enquanto alguns hackers são cibercriminosos, outros trabalham em segurança cibernética ou para outras empresas de tecnologia legítimas para protegê-los.

“Se algum dos seus filhos mostrar interesse em hackear, incentive-os, mas também fale sobre as questões de responsabilidade”, diz Jeff Williams, chefe global de segurança da Avast (e pai de dois adolescentes com capuzes pretos). “Hackear por si só não é uma coisa ruim: entender como as coisas funcionam e não funcionam aprofunda a compreensão da tecnologia envolvida. Mas quando esse conhecimento é usado contra alguém, aí se torna algo problemático”.

Williams diz que existem alguns sinais específicos de que seus filhos podem estar se envolvendo com hackers. Ele sugere estar atento a coisas como:

  • Eles começam a usar termos como dox, DDoS e bot.

  • Eles recebem pacotes ou começam a usar coisas novas que você não comprou e você não tem certeza de como eles pagariam por elas.

  • Seu software de controle parental parou de funcionar de repente.

  • Uso intenso da banda larga na sua rede doméstica ou limite excedido no plano do celular.

Se você descobriu que algum dos seus filhos está interessado em hackear, você pode redirecionar esse interesse para longe de “brincadeiras” e do comportamento criminoso e colocá-lo de volta em atividades mais produtivas.

O primeiro passo, como sempre, é a comunicação. Converse com seu filho sobre ética e a importância de ser um bom cidadão digital. Enfatize que as ações realizadas na internet têm efeitos tão reais quanto as ações presenciais. Fale sobre como a programação de computadores é uma habilidade muito legal (e potencialmente lucrativa), mas esse grande poder vem com uma grande responsabilidade.

Você pode até mostrar-lhes como outros adolescentes ganharam muito dinheiro através de hackers éticos. Por exemplo, o adolescente argentino Santiago Lopez, 19, ganhou mais de US$ 1 milhão enviando quase 1.800 bugs para o programa de recompensas de bugs HackerOne*. Ele usou o seu interesse em hackear para ajudar empresas legítimas a fortalecer a sua segurança e se tornou um milionário antes de completar 20 anos.

Por outro lado, o WannaCry infectou 10.000 pessoas por minuto durante quatro dias antes de o pesquisador de segurança cibernética Marcus Hutchins derrubá-lo. Mas enquanto Hutchins foi elogiado como um herói em 2017, ele foi preso em 2019 por espalhar um malware que ele mesmo criou quando era um adolescente hacker. Mesmo quando adulto – e mesmo como um famoso hacker que derrubou um dos malwares de disseminação mais rápida vista até hoje – Hutchins teve que se redimir por suas ações na adolescência.

Você também pode ajudar seus filhos a aprender a programar e hackear para sempre. Para crianças mais velhas e adolescentes, encontre uma aula de programação de computadores em sua comunidade. Ou procure no Discord por servidores voltados para programação de computadores e hackers éticos. Para crianças mais novas, brinquedos STEM específicos para hackers* podem ser uma maneira divertida de começar.

O mundo digital vem com as suas próprias oportunidades e perigos. Mas, assim como em qualquer outro lugar da vida, você, como pai ou mãe, tem as ferramentas para orientar seus filhos e outros adolescentes na direção certa. Converse sobre comunidades online, continue falando sobre cidadania digital e aponte para canais mais produtivos. Você tem talento!


A Avast é líder global em segurança cibernética, protegendo centenas de milhões de usuários em todo o mundo. Saiba mais sobre os produtos que protegem sua vida digital em nosso site e receba todas as últimas notícias sobre como vencer as ameaças virtuais através do nosso Blog, no Facebook ou no Twitter.

* Original em inglês.

--> -->