Internet está mais limitada e ao mesmo tempo em expansão

Nilton Kleina 29 jun 2021

Oferta de sites e conteúdos cresceu nos últimos anos, mas apenas as mesmas plataformas são acessadas

De acordo com um artigo publicado na revista científica Public Library of Science ONE, a tendência é que atualmente haja uma variedade maior de serviços, sites e empresas à disposição dos usuários do que anteriormente. Por outro lado, a competição interna entre eles pela atenção dos consumidores e por espaço nas plataformas resulta em uma oferta mais concentrada de links em poucos lugares.

A conclusão é fruto de um estudo realizado com uma base de dados generosa e de vários anos, liderado pelo professor Paul X. McCarthy, da University of New South Wales, na Austrália. Os pesquisadores avaliaram traços de navegação em algumas plataformas para definir se a internet de fato está expandindo e o que exatamente isso significa.

Uma internet cada vez maior

A pesquisa focou um cenário que foi desenhado ao longo da história da internet: a disputa pela atenção cada vez mais restrita e exigente do usuário. No início das conexões comerciais, com sites simples e sem a existência dos smartphones ou dispositivos inteligentes, havia menos oferta de conteúdo na internet.

As páginas focavam apenas textos e imagens estáticas, os buscadores exibiam menos resultados nas pesquisas, além disso, o streaming de áudio e vídeo ainda não era uma realidade — sem falar na ausência de diversas redes sociais com feeds intermináveis de conteúdo.

O Google em 1998: tempos mais simples. Fonte: Quora/Reprodução

Mas o quanto isso cresceu com o tempo? De acordo com o estudo, o número de usuários da internet passou de 1,2 bilhão de pessoas, em 2006, para 3,3 bilhões, em 2016. 

Ao mesmo tempo, o período que essas pessoas passavam conectadas também aumentou, assim como a quantidade de domínios registrados: de 79 milhões para 329 milhões no mesmo período analisado.

São mesmo tantas opções?

Só que a hipótese do estudo envolvia encontrar um efeito contrário. Ele é baseado no pressuposto da teoria das redes de que a internet cresce a partir de raízes já estabelecidas, sempre ligadas a um grupo concentrado de empresas ou serviços, ou seja, por mais que a quantidade de domínios e possibilidades aumente, o poder continua nas mãos de cada vez menos organizações.

Assim, os gigantes do mercado online ficam cada vez maiores na mesma medida em que plataformas menores e independentes acabam sendo absorvidas ou deixam de existir por serem incapazes de competir no mesmo nível.

Para comprovar isso, os pesquisadores utilizaram uma extensa amostra: uma base de dados da plataforma de fóruns Reddit com postagens entre dezembro de 2005 e dezembro de 2019, além de publicações no Twitter de setembro de 2011 a dezembro de 2019.

A quantidade de links e domínios expande (gráficos A e B), mas os endereços estão vindo cada vez mais dos mesmos lugares (D). Fonte: PLOS/Reprodução

Um resultado se destaca: a quantidade de endereços compartilhados subiu ao longo dos anos, mas houve uma queda na "originalidade dos links", ou seja, o local em que eles estavam hospedados. Isso reforça a tese de que a diversidade na web está cada vez mais distante.

Tudo ao mesmo tempo

Outra variável medida foi a diversidade de conteúdos que competem pela atenção do usuário. Só levando em conta o caso do Twitter, nota-se a diversidade de ferramentas e materiais audiovisuais que estão disponíveis.

Links que levam para redes sociais estão cada vez mais frequentes e são os mais compartilhados; enquanto vídeos, streaming de música e links de lojas apresentam tendências positivas. Por outro lado, alguns serviços foram "engolidos", como aplicativos de relacionamento e clipes gravados com action cams, como as GoPro.


A pluralidade de formatos de conteúdo na rede. Fonte: PLOS/Reprodução

Os pesquisadores reforçam que a internet de fato vive esse paradoxo de estar em expansão, mas ao mesmo tempo concentrada no domínio de poucos gigantes como o Google, o Facebook e a Amazon, que não param de crescer. 

Os cientistas não chegam a encontrar respostas sobre como isso aconteceu, mas falam que a rede pode ser explicada por ciclos e modas que, apesar de variáveis, sempre deixam pouca chance de sobrevivência para novos concorrentes. O estudo completo pode ser lido na revista PLOS ONE*.


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* Original em inglês.

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