Grandes questões de privacidade e segurança surgem à medida que carros e caminhões começam a acelerar uma coleta de dados pessoais ainda mais avançada do que a atualmente feita pelos nossos smartphones.
Você se lembra da época quando os celulares serviam principalmente para fazer chamadas? Agora os smartphones se tornaram nossa interface digital.
Você se lembra da época em que a caminhonete da família servia principalmente para se deslocar do ponto A ao ponto B? Você deve ter notado que a conectividade começou a saturar os carros que tanto gostamos de dirigir, colocando-os em um caminho mais rápido para se tornar nossa próxima grande interface.
Forças irresistíveis estão em movimento e, em breve, elas transformarão carros e caminhões em cápsulas ecológicas de transporte controladas por software. Esses veículos inteligentes serão integrados a uma infraestrutura mais ampla, dirigida por softwares que controlam edifícios inteligentes, sistemas de transporte inteligentes e serviços ao consumidor fornecidos na nuvem.
Os benefícios esperados são vários. Mas também há grandes preocupações que devem ser abordadas, pensando mais na privacidade do que na segurança. Esses são exemplos do que você deveria saber sobre a chegada de carros conectados.
Conectividade crescente
Nossos carros vão, como nossos smartphones, rastrear e analisar nossos comportamentos o tempo todo.
A direção hoje requer atenção total de um ser humano. Mas os carros estão subindo continuamente na escala de autonomia dos veículos que vai de zero a cinco criada pela Sociedade de Engenheiros de Automóveis. A maioria dos carros hoje está no nível 0: equipados com sistemas automatizados que podem enviar advertências e intervir temporariamente, mas que sozinhos não são capazes de controlar o veículo.
No entanto, cada vez mais modelos são entregues no nível 2, em que os sistemas automatizados podem assumir a direção, aceleração e frenagem, mesmo que o motorista precise estar pronto para intervir. Alguns modelos atingiram o nível 3, no qual o motorista pode desviar sua atenção por breves períodos para assistir a um vídeo ou responder e-mail, por exemplo.
O nível 4 amplia as circunstâncias sob as quais a direção autônoma pode ocorrer e, no nível 5, a direção humana é completamente eliminada. O uso amplo de veículos de nível 5 pressupõe a aceleração de redes de negócios de última geração, que usam intensivamente a Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artifical (IA).
“O setor está tentando alcançar o modelo conectado de veículo completo (V2X) em que os carros não só se comunicam uns com os outros, mas também com a infraestrutura em sua volta e possivelmente outras coisas”, Stacy Janes disse. Janes é arquiteta-chefe de segurança da Irdeto, uma fornecedora de software antipirataria, com sede em Amsterdã, que trabalha com segurança de carros conectados.
Benefícios esperados
No futuro, os carros conectados vão tomar decisões cruciais sobre objetos físicos e outros sistemas digitais que podem detectar nas proximidades e, ao mesmo tempo, coletar e armazenar dados comerciais e pessoais monetizáveis.
Líderes políticos e do setor não veem a hora de colher os benefícios do transporte autônomo: viagens mais eficientes, menos poluição, melhor utilização de veículos e um papel de liderança para os Estados Unidos na inovação de veículos autônomos, de acordo com um relatório de 2017 do Centro de Estudos da Presidência e do Congresso, um grupo de pesquisa apartidário e sem fins lucrativos.
Pense só em todas as mensagens de texto, e-mails, serviços bancários, compras ou séries que você pode curtir, uma vez que você não precisa se concentrar na direção defensiva.
Questões de segurança
Colocar frágeis seres humanos à mercê de veículos autônomos guiados por computador implica em riscos à segurança. No entanto, as principais questões de segurança são claramente traçadas e devem ser simples de resolver. De acordo com os especialistas, o transporte veicular deve ser muito mais seguro com um computador dirigindo.
Ao substituir os caprichos do julgamento humano por algoritmos de aprendizado de máquina, que se tornam mais inteligentes à medida que assimilam mais dados, o transporte terrestre quase certamente se tornará menos mortífero. Haverá menos caminhoneiros cansados na estrada e menos motoristas que olham os aplicativos com mapas ou enviam mensagens de texto enquanto dirigem.
Assim como nas viagens aéreas, ferroviárias e rodoviárias, uma mistura de regras e práticas recomendadas terá que surgir para estabelecer um nível de segurança aceitável para o público em geral. E esse processo está bem encaminhado.
Preocupações em relação à privacidade
A questão mais complicada é como abordar uma série de preocupações em relação à privacidade. Os reguladores estaduais e federais começaram a criar os regulamentos para abordar questões de segurança e privacidade e os padrões do setor também estão em pauta. No entanto, neste momento, ninguém sabe que mistura de regras e práticas recomendadas vai ser aceita.
Pessoalmente, me preocupa como os dados avançados coletados por nossos carros serão usados para marketing predatório e manipulação ideológica. Os dados pessoais avançados coletados por veículos conectados já provocaram controvérsias sobre criação de perfis comportamentais. O USA Today, por exemplo, divulgou que as locadoras de carros rotineiramente não apagam informações pessoalmente identificáveis que os locatários digitam em sistemas de navegação e entretenimento. E a CBS News relata que as montadoras experimentaram revender blocos de dados de localização para fornecedores de mapas.
Responsabilidade dos consumidores
Como acontece com qualquer meio de transporte, o embate entre os órgãos reguladores estaduais e federais e os interesses comerciais já começou a moldar os regulamentos relativos às questões de segurança e privacidade, bem como os padrões do setor. Defensores dos direitos de consumidores e grupos preocupados com direitos à privacidade já começaram a se opor aos esforços do setor de seguros, que queria usar os dados coletados pelos veículos conectados de formas que podem ser injustas (ou discriminatórias) para os cidadãos.
Elizabeth Rogers, a sócia da Michael Best & Friedrich, encarregada de privacidade e segurança de dados, acredita que os consumidores devem estar preparados a exigir seus direitos. Ela me disse o seguinte: “Os consumidores precisam vigiar e exercer seus direitos para limitar a coleta e o uso de dados coletados. É preciso incorporar ao design desses sistemas vários níveis de consentimento, e exigir o consentimento expresso antes de compartilhar os dados do consumidor, que são individualizados e de um motorista único”.
Concordo plenamente. Até breve.