O setor de jogos usa táticas psicológicas para viciar e aumentar gastos dos jogadores, mas você pode manter a sua segurança e sanidade mental seguindo essas dicas.
Videogames são hoje o maior setor de entretenimento do mundo: maior que o de música, maior até que Hollywood. Isso significa que, para desenvolvedores e estúdios de jogos, este é também o lugar com maior lucro para se estar.
Entre os setores de entretenimento, o de jogos é o único que também pertence ao campo de tecnologia. Ele faz parte da revolução do Vale do Silício e a inovação o acompanha desde o início. Isso significa que nem sempre pagamos pelos produtos que recebemos da mesma maneira que pagamos por filmes, livros ou músicas. Isso também significa que algumas das inovações que as empresas de jogos usam para ganhar dinheiro têm efeitos colaterais inesperados.
Problemas para o consumidor
O setor de jogos sempre foi um dos mais dinâmicos do mundo e as mudanças rápidas, muitas vezes, trazem erros e problemas. Os grandes estúdios são cada vez mais criticados e suas práticas são percebidas como anti-consumidores ou prejudiciais para sua base de jogadores. Veremos em seguida alguns dos problemas enfrentados pelos jogadores.
Um centavo aqui, outro ali...
Os jogos são atraentes: é assim que eles se tornaram o maior e mais bem-sucedido setor de entretenimento do mundo. Uma vez que começamos a curtir um jogo, queremos continuar jogando e isso é fundamental para o sucesso desse meio. A natureza compulsiva de alguns jogos gera contas enormes para pais cujos filhos gastam milhares de dólares em jogos e microtransações viciantes. Os pais podem receber altas faturas de cartão de crédito quando as crianças (ou mesmo os próprios pais), não percebem o que estão fazendo ou simplesmente não conseguem parar.
Joguinhos ou jogos de azar?
As caixas de saque (contêineres com itens do jogo) começaram a se tornar um método central para os jogos ganharem dinheiro, especialmente em jogos multiplayer, para mobile, ou com serviço ao vivo. Além da controvérsia que criam entre os jogadores, elas também são cada vez mais objeto de controvérsia legal, já que seu mecanismo se assemelha a jogos de azar. Enquanto jogos de azar tradicionais são estritamente regulamentados na maioria dos países, as caixas de saque não estão sujeitas a estes regulamentos.
Alguns países, como a Bélgica e a Holanda, impuseram regulamentações legais aos sistemas de caixas de saque. No entanto, a Entertainment Software Association (ESA) decidiu que as caixas de saque não são consideradas jogos de azar nos EUA, pois o jogador sempre tem alguma garantia de valor, em troca de seu dinheiro.
Sejam eles jogos de azar ou não (a ação psicológica é parecida, com certeza), os jogadores podem cair em várias armadilhas compulsivas que o jogo cria. Um relatório de novembro de 2018, da Comissão de Jogos do Reino Unido sugere uma conexão entre as caixas de saque e um aumento nos comportamentos problemáticos entre as crianças. Indivíduos que são vulneráveis e jogam compulsivamente também foram afetados por caixas de saque e causaram sérios danos financeiros a si mesmos por esse motivo.
O mercado cinza
Os jogos podem ser um hobby caro de muitas maneiras diferentes, por isso não é uma surpresa que bons negócios e barganhas sejam muito atraentes para os jogadores. Isso abriu o caminho para um aumento de sites de terceiros, que vendem chaves de ativação e permitem aos jogadores instalar um jogo no Steam, Origin ou outras plataformas de distribuição, muitas vezes por preços extremamente baixos.
Isso é perfeitamente legal do ponto de vista do consumidor, mas muitas vezes não há como saber exatamente como o revendedor adquiriu a chave de ativação. Não se trata de mercado negro, mas nem todos os elos da cadeia de fornecimento são necessariamente legítimos. Seja ético ou não, os clientes também têm alguns problemas práticos com esses revendedores.
Em 2015, a Ubisoft começou a cancelar as chaves de ativação do jogo que foram compradas através de sites de terceiros. A Ubisoft fez isso simplesmente para se proteger contra perdas decorrentes de fraudes com cartões de crédito, mas muitos clientes descobriram que uma chave “legítima”, que compraram de um revendedor terceirizado, de repente parou de funcionar, deixando-os sem dinheiro e sem jogo. Os sites do mercado cinza também têm um histórico de práticas de privacidade intrusivas. Alguns dos principais revendedores exigem que os clientes permitam o acesso remoto e o controle do computador para verificar se há algum problema com a compra.
Como se proteger?
Como jogar sem pagar demais, ou se tornar vítima de métodos mais esotéricos que as empresas de jogos inventaram para ganhar dinheiro?
Controle parental
Se seus filhos jogarem em dispositivos móveis, provavelmente vale a pena implementar o controle parental, caso você ainda não tenha feito isso. Verifique as páginas de suporte da Apple ou do Android para saber como bloquear os pagamentos no aplicativo do seu dispositivo. Se estiver preocupado com publicidade segmentada e quiser proteger seus dados, considere uma solução de proteção de dados como Avast AntiTrack Premium.
E óbvio: nunca deixe que membros da família usem seu cartão de crédito em jogos.
Consumo responsável
De certa forma, um dos aspectos mais perigosos do mercado de jogos é que você nunca é forçado a se envolver: nenhum jogo coloca uma arma na sua cabeça e obriga você a comprar caixas de saque ou gastar dinheiro em mineração de pedras preciosas mágicas mais rápido. É essa falta de coerção e o fato de as caixas de saque sempre conterem algo, mesmo que sem valor, que mantêm a legalidade do processo.
Porém, para que os desenvolvedores ganhem dinheiro, as transações precisam ser muito atraentes para os jogadores e usam frequentemente psicologia avançada para construir antecipação e satisfação ao abrir caixas de saque. Se você sofre de comportamentos compulsivos ou tem histórico de vício em jogos, é necessário escolher cuidadosamente quais jogos você jogará. Confira as resenhas, tanto de clientes quanto de publicações online, para ter uma ideia se as caixas de saque estão presentes ou intrusivas nos jogos que você está considerando e evite produtos que possam representar um risco a você.
Compre de fontes respeitáveis
Como sempre, uma das maneiras mais importantes de manter a segurança é não correr riscos. Não confie em nomes desconhecidos ou em empresas que se envolveram em práticas predatórias ou apoiam atividades ilegais. Evite baixar os jogos gratuitos e com cracks nos sites de aplicativos obscuros de terceiros. É mais provável que eles vão trazer mais dores de cabeça e malwares do que entretenimento de verdade. As barganhas são sempre atraentes, mas lembre-se do velho ditado: Se a esmola é grande demais, até o santo desconfia.
Como com tudo online, nunca confie seus dados pessoais ou financeiros sem realmente precisar e evite revendedores não oficiais de chaves ou conteúdos de jogos.
A conclusão é simples. Embora os produtores de jogos tenham todo o direito de lucrar com suas criações, a natureza humana os convence a ganhar o máximo possível. Muitos usam métodos tecnológicos e psicológicos duvidosos para tirar o máximo possível do seu dinheiro. Embora existam alguns aplicativos que podem ajudar você a se proteger, a melhor solução é a conscientização constante e vontade de não ser enganado.
Se você quer saber como os desenvolvedores ganham dinheiro, continue lendo sobre como o setor está ganhando dinheiro:
Assinatura
Os modelos de monetização mensais ou anuais com base em assinaturas são os favoritos dos jogos multiplayer online, onde os jogadores fazem pagamentos regulares para ter acesso contínuo ao produto. Em troca, o jogo geralmente recebe suporte contínuo e pode ser atualizado, aprimorado ou melhorado com o tempo.
Free-to-play (Grátis para jogar)
O termo free-to-play ficou, até certo ponto, desvinculado de seu significado original. Originalmente, era assim que os jogos podiam ser oferecidos de graça, sem custo inicial de compra, sem assinatura e ainda encontrar uma maneira de ganhar dinheiro. Enquanto o jogo em si era gratuito, as melhorias opcionais no jogo eram oferecidas mediante o pagamento de taxas. De maneira geral, o pagamento possibilitava realizar ações no jogo mais rapidamente, ou era uma garantia de obter itens raros no jogo. Atualmente, as caixas de saque (loot boxes) são uma forma muito popular de monetização free-to-play, em que os jogadores usam uma moeda do jogo (comprada com dinheiro real) para abrir um contêiner no jogo. Esses contêineres podem ter itens raros ou poderosos no jogo, ou cosméticos exclusivos, mas não garantem ao jogador o que ele quer.
Os métodos de monetização free-to-play não se limitam mais apenas a jogos sem custo inicial de compra. Jogos que têm preço inicial, especialmente os com multiplayer, agora incluem maneiras opcionais de gastar dinheiro dentro do jogo. Isso ainda é conhecido como mecânica free-to-play devido às suas origens, mas agora é possível ter o free-to-play incorporado em jogos com preço inicial.
Publicidade dentro do jogo
Uma maneira de jogos ganharem dinheiro sem qualquer custo para o jogador (pelo menos sem custo direto) por meio da publicidade no jogo, aparece principalmente em jogos para celular, mas também chegou aos mercados de grande orçamento. É um conceito simples: os criadores de jogos aceitam que as empresas paguem para anunciar seus produtos dentro do jogo. Isso ocorre em forma de um breve comercial antes de continuar o jogo, ou como parte da experiência de jogo, muito parecido com a colocação de produtos em filmes. Por exemplo, Mario pode dirigir um Mercedes-Benz em Mario Kart, ou é possível comprar uma máquina de venda automática da marca Coca-Cola no The Sims.
Serviço ao vivo
O modelo de serviço ao vivo é uma das últimas tendências a emergir no mercado de jogos. Atuando como um híbrido entre a venda direta e os modelos free-to-play, os jogos de serviço ao vivo podem usar várias formas diferentes de monetização. O que define um jogo de serviço ao vivo é que ele é projetado para incentivar os gastos contínuos do jogador, após o lançamento inicial. Isso pode usar exclusivamente o modelo free-to-play ou exigir que os jogadores paguem uma assinatura, apesar de ser um jogo para um jogador só.
A implementação real do modelo de serviço ao vivo recebeu uma reação bastante negativa, especialmente devido ao fracasso de alguns jogos muito esperados. Recentemente, o jogo Anthem tentou oferecer a funcionalidade de serviço ao vivo, via skins e roupas de personagens que podem ser comprados dentro do jogo e permitindo que os jogadores enfrentassem missões juntos, online. O jogo é considerado um fracasso devido ao baixo número de vendas e à participação fraca decorrente de um lançamento problemático, incluindo graves falhas de design.
Jogos como esse e o fato de que o modelo de serviço ao vivo requer uma conexão online, mesmo em jogos para um jogador só, tornaram este assunto controverso entre os jogadores. Em teoria, porém, existe pelo menos escopo para o modelo de serviço ao vivo fornecer aos jogadores mais conteúdo por um período mais longo, de uma maneira que seja financeiramente viável para os desenvolvedores.