Fato ou fake: o celular escuta suas conversas? | Avast

Nilton Kleina 10 jun 2020

Apesar de a câmera e o microfone não serem utilizados sem permissão, isso não significa que estamos totalmente seguros

Imagine a seguinte situação: você está reunido com amigos e a conversa toma um rumo bastante específico: o tipo de comida que o gato de uma das pessoas presentes mais gosta de comer. Você não tem um pet em casa e, por isso, nunca pesquisou a respeito do assunto, mas um anúncio de uma promoção de ração surge no dia seguinte em seu feed das redes sociais.

Bruxaria, previsão ou invasão de privacidade? Esse tipo de denúncia se tornou comum conforme as plataformas foram ficando mais populares e, ao mesmo tempo, cheias de riscos. Será mesmo que estamos sendo observados a ponto de precisarmos tomar cuidado com o que vamos falar, mesmo se o aparelho estiver no bolso?

Eu (não) quero acreditar

A história difundida é simples: o celular está a todo momento ouvindo as conversas, gravando o conteúdo e separando palavras-chave que seriam usadas para direcionar banners em sites e postagens de anunciantes nas redes sociais com a maior precisão possível.

É fato que a publicidade nas redes sociais é intensa e, em muitos casos, pode atrapalhar a navegação. Além disso, como usuários de aplicativos que permitem a postagem de imagens ou a realização de videochamadas, concedemos muitas permissões a esses serviços. Para tarefas específicas, apps podem acessar sua lista de contatos, câmera, microfone e até algumas configurações do sistema. Tecnicamente, espionar seria possível.

Pode acontecer?

Dito isso, não é impossível que o seu dispositivo seja usado ilegalmente. Falhas de segurança podem acontecer nas plataformas, resultando em conteúdos coletados sem autorização; e funcionários podem ter acesso a conteúdos em áudio do que você conversa com um assistente pessoal — como já aconteceu com a Google. Além disso, agências governamentais com ferramentas muito mais sofisticadas de vigilância podem se aproveitar de possíveis brechas.

011(Fonte: Shutterstock)

O uso criminoso dessas permissões também existe: aplicativos maliciosos que se fingem de outros serviços podem enganar o usuário para roubar dados e aplicar golpes. Desconfie de apps que solicitam autorizações que vão além da função primária oferecida e procure sempre fazer downloads em lojas oficiais.

Tentativas de comprovação

O assunto cresceu e virou até objeto acadêmico. Em março de 2018, pesquisadores da Northeastern University conduziram um estudo* com 17 mil aplicativos, metade deles com permissão de uso da câmera e do microfone do celular. Nenhuma evidência de uso sem autorização desses componentes foi encontrada, nem mesmo por redes sociais mais populares, como Facebook e Instagram. Do ponto de vista científico, esse tipo de "espionagem" é uma lenda urbana. A combinação de dados gerados por você e seus contatos (histórico, curtidas e pesquisas, por exemplo) é o que gera essa publicidade de forma automática.

Meses depois, em um experimento feito pela Vice*, um jornalista alegou ter recebido anúncios com base em conversas com o aparelho ao lado. Ele mostrou resultados preocupantes, mas a pesquisa foi realizada durante menos de uma semana e de uma maneira menos criteriosa, o que abre margem para algumas dúvidas. Afinal, quem garante que não foi apenas coincidência?

O cofundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, negou essa prática durante um depoimento ao Senado dos Estados Unidos. Resposta similar foi dada pelo gerente do Instagram, outra plataforma acusada da prática.

Ele não escuta, mas nem precisa disso

Em outras palavras, você pode ficar um pouco mais tranquilo, já que não há provas de que o microfone ou a câmera do seu smartphone são usados para captar informações sem autorização.

Esse é, portanto, um fenômeno comportamental: ficamos assustados com coincidências ou quando o Facebook acerta "na mosca" sobre nossos gostos e assuntos de interesse, mas isso é mais raro do que parece, e o site também erra bastante até encontrar o alvo. Somente notamos quando esses fenômenos ocorrem, o que faz parecer que são até mais frequentes do que realmente são. Os seus amigos podem ter uma história parecida, mas repare que ela dificilmente acontece mais de uma vez, mesmo que todos sejam usuários assíduos das redes.

Ao mesmo tempo, essas coincidências só provam como os algoritmos estão inteligentes, o quanto compartilhamos informações demais por outros meios e a capacidade das ferramentas de, com base em dados coletados por meios legais, compreender hábitos, preferências e até potenciais compras.

Podemos ficar tranquilos quanto a esse tipo de espionagem, mas estamos sujeitos a muitos outros mecanismos que exploram a nossa falta de privacidade. O seu histórico de navegação diz muito mais do que você imagina.


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* Original em inglês.

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