Apesar de alguns receios generalizados, a inteligência artificial pode ajudar a segurança cibernética bloqueando notícias falsas e outras ameaças.
Manchetes sobre uma inteligência artificial (IA) ética e histórias sobre o perigo dessa tecnologia me fazem imaginar se haveria artigos sobre martelos éticos ou o perigo das facas caso existisse imprensa ou mídias sociais no tempo em que eles foram inventados. Martelos e facas são de fato perigosos, mas também são ferramentas essenciais que nem sequer imaginamos ficar sem.
A IA é muito maior e mais ampla do que qualquer ferramenta da Idade das Pedras, convidando a comparações com o aproveitamento da eletricidade ou à internet, tecnologias que mudaram praticamente tudo em nossa sociedade, além mesmo do que seria possível prever. Algorítimos inteligentes trabalham de forma ainda mais sutil, empoderando sistemas existentes e criando outros completamente novos. A análise de dados se torna mais poderosa, revelando padrões que a mente humana nunca poderia imaginar. Eficiência e produtividade florescem por todos os lados, desde o design de um chip até a previsão do tempo.
Também é verdade que o desenvolvimento de armas ganha mais força. E aqui não estou falando de robôs de ficção científica tampouco daqueles de verdade, que aparecem em vídeos virais e recebem centenas de comentários assustadores do tipo “estamos condenados!” Não há nenhuma razão para acreditar que nossas incríveis criações tecnológicas inteligentes vão se voltar contra a gente. Pelo menos não mais do que nossos martelos e facas, que também são perigosos quando estão nas mãos erradas.
Ciberataques autônomos têm se tornado a norma e estão melhorando cada vez mais com ferramentas de IA. Ataques do tipo phishing podem coletar e reunir dados pessoais da internet para compor e enviar milhões de mensagens. São algorítimos de rastreamento inteligente, cujas mensagens têm os melhores resultados e ajustam suas táticas para o próximo ataque. Ataques autônomos analisam todo possível dispositivo procurando por pontos de entrada. Com bilhões de novos dispositivos chegando aos consumidores a cada ano, muitos deles com uma segurança péssima, a defesa contra essas investidas também precisa seriamente de um reforço da IA.
Garry Kasparov e Rajarshi Gupta no evento InfoSecurity na Cidade do México
A Internet das Coisas impõe novos desafios para os pesquisadores de segurança
Poucas pessoas podem falar sobre esse reforço de segurança como Rajarshi Gupta, chefe de IA da Avast. Recentemente estivemos juntos em uma apresentação durante o evento InfoSecurity*, realizado na cidade do México. Ele apresentou algumas estatísticas impressionantes sobre ciberataques acontecendo em tempo real. Também discutiu sobre como a Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês) está criando novos problemas para pesquisadores de segurança. Você pode instalar um software de segurança no seu PC ou smartphone, mas como fica sua torradeira? Pode não parecer uma ameaça muito grande se um hacker invadir seus aparelhos domésticos (mesmo que isso possa incendiar a sua casa, como Rajarshi comentou!), mas pode ser o ponto mais fraco em uma cadeia que leva a conexões com a rede da sua casa.
Com tantos dispositivos novos aparecendo e malwares que se adaptam e podem se espalhar como fogo em mato seco, a missão de Rajarshi é crítica. A tecnologia de Aprendizagem de Máquina é indispensável. Ela é a única forma como as ferramentas de segurança podem se manter em pé de igualdade com malwares que evoluem constantemente. Um banco de dados padrão de assinaturas de vírus fica desatualizado em questão de segundos.
Os recursos têm um importante papel nessa batalha interminável. Como Rajarshi explicou em uma das suas entrevistas para uma revista mexicana, defesas pessoais e corporativas geralmente podem se sobrecarregar com os enormes recursos de atores estatais. Geralmente, exércitos nacionais de hackers estão focados um no outro, mas cada vez mais eles estão atrás de alvos mais sensíveis, como redes elétricas e contas de e-mail de líderes de partidos políticos. A atividade de um hacker pode mudar o mundo geopolítico* de forma mais rápida e barata do que qualquer batalha militar.
A melhor defesa é um bom ataque
A discussão é a única defesa eficiente nessas circunstâncias. Sei que a defesa é o trabalho da Avast (e muito importante, mesmo que o hackeamento inverso não seja permitido), mas minha filosofia enquanto jogador de xadrez era a de que a melhor defesa era um bom ataque. Isso também é verdade no cenário geopolítico, mas, neste caso, é a ameaça de um bom ataque que importa. Há muitos territórios cibernéticos a cobrir somente para uma defesa funcionar bem ou por mais tempo ao nível de estado-nação.
A IA também é promissora para nos ajudar a nos proteger enquanto indivíduos e sociedade contra fake news, vídeos falsos e outras formas de desinformação. Os olhos e ouvidos humanos podem não ter a habilidade de notar a diferença entre um vídeo real e um falso modificado com IA, mas um algorítimo de detecção desenvolvido com IA pode. Idealmente, a falsificação pode ser eliminada antes da sua distribuição ou automaticamente ser classificada antes de sua publicação.
Será uma luta longa e difícil, mas enfrentamos batalhas similares no passado. Mesmo alguns especialistas pensaram que spams de e-mails iriam acabar com a internet, mas a maioria de nós nem nota mais isso. Perceba que não foi apenas a filtragem do lado do cliente que fez esse trabalho, mesmo que isso ainda seja muito importante. Penas severas incluem a prisão para spammers, causando um forte efeito dissuasivo. Regulação para vídeos alterados maliciosamente e fake news também vão envolver considerações da liberdade de expressão, mas o precedente está aí para travar essas batalhas de forma bem sucedida.
Humanos e máquinas inteligentes terão que combinar esforços para criar uma estrutura robusta necessária para a defesa contra esses tipos de ameaças. Estou feliz que a IA e pessoas como Rajarshi Gupta estejam do nosso lado. Para mais detalhes, leia seu artigo sobre suas aventuras mexicanas aqui*.
* Original em inglês.