Nesta semana, a série “O que a internet sabe sobre mim?” investiga as questões de privacidade envolvendo o aplicativo de emagrecimento Noom.
Se nos últimos tempos você já planejou iniciar uma dieta — ou se ouviu algum podcast ou segue perfis fitness no Instagram — então há uma boa chance de já ter ouvido falar sobre o Noom*. Esse é o razoavelmente novo programa de emagrecimento que foca menos na contagem de calorias e mais em aspectos psicológicos de uma vida saudável. A iniciativa é focada na educação dos usuários para que aprendam a escolher melhor seus alimentos e a se exercitarem mais, o que parece muito bom.
Pessoalmente, ainda não experimentei o Noon, mas sempre tive curiosidade. Então, decidi conduzir as coisas um pouquinho diferente. Ao invés de analisar um serviço que uso e já tem muitas informações sobre mim, analisarei um que estou pensando em usar antes de assinar. Estou tendo uma postura proativa no que se refere à minha privacidade. É assim que as coisas devem ser, não?
O que o Noom rastreia
O Noom rastreia três categorias de dados principais: informações pessoais, de saúde e relacionadas ao dispositivo/site.
Informações pessoais
- Nome e sobrenome
- Perfil pessoal
- Endereço de e-mail
- Endereço residencial
- Número de telefone
- Nome de usuário
- Senha
Informações de saúde
- Altura
- Peso
- Pressão sanguínea (se providenciada)
- Nível de glicose no sangue (se providenciado)
- Dados biométricos
- Condição física
- Alimentos ingeridos
- Exercícios (pelo aplicativo Health ou de terceiros)
- Calorias ingeridas
Informações do dispositivo/site
- Endereço IP
- Navegador
- Sistema operacional
- Hardware
- Informações da rede móvel
- URL que recomendou um usuário ao Noom
- Sites/áreas visitadas no aplicativo ou site
- Localização do dispositivo
- Cookies
- Acessos de terceiros
O que o Noon faz com esses dados?
A principal coisa que o Noon faz com esses dados todos é ajudar seus usuários a perderem peso. Isso é obvio, certo? O serviço depende de todas as informações fornecidas para analisar as escolhas de alimentação de cada um, o processo de emagrecimento e os objetivos de saúde do usuário.
Mas assim como muitas empresas que já analisamos na série, o Noom utiliza esses dados também para outros propósitos. Infelizmente, a política de privacidade da empresa é densa e cheia de juridiquês e afirmações que parecem contraditórias. Ou, no mínimo, parecem escritas para confundir o usuário comum.
Por exemplo, a empresa diz que “não divulgará nenhuma informação de seus usuários coletadas no site, aplicativo e serviços do Noom”, mas logo após essa informação, ela diz: “exceto como definido nesta política de privacidade, o Noon não compartilha informações pessoais dos usuários para ser utilizada com o propósito de marketing direto de terceiros”.
Na minha opinião, essas duas sentenças fazem o usuário acreditar que seus dados não serão utilizados para fins de marketing, só que não é bem assim. Enquanto nos aprofundamos na política de privacidade da empresa, encontramos essa sentença: “Podemos usar uma empresa terceirizada respeitável para apresentar ou enviar anúncios que você pode ver em Serviço”. O texto também diz que a empresa pode compartilhar informações pessoais, como medidas de desempenho, e que eles podem compartilhar informações mediante uma exigência legal.
Para terminar, a política de privacidade do Noon diz: “o Noon pode, periodicamente, oferecer as informações coletadas dos usuários no site Noon, aplicativo móvel e serviços com registros externos de terceiros para diferentes propósitos, como melhorar a capacidade do Noon em servir seus usuários, oferecer conteúdo sob medida aos usuários e oferecer oportunidades que possam ser do interesse dos usuários”. Isso quer dizer que eles podem trocar informações com agregadores de dados para enviar mais anúncios dirigidos a cada usuário.
O que o usuário recebe em troca por seus dados? Quais são as vantagens?
Como retorno por seus dados (e US$ 59 por mês ou US$ 199 por ano), os usuários ganham acesso a ferramentas de rastreamento de refeições, contagem de calorias, dicas sobre vida saudável e “treinadores” personalizados para ajudá-los a alcançar seus objetivos de saúde.
Será que vale a pena? Talvez para algumas pessoas sim. Mas com essa política de privacidade obscura, que por sinal não foi atualizada desde 2018, além do fato de cobrarem os usuários e ainda usarem seus dados pessoais em anúncios, prefiro não me arriscar. Prefiro continuar com o MyFitnessPa e o Fitbit para me ajudarem a atingir minhas metas de saúde do que entregar mais dados a outra empresa.